A BOLA DOS KAMAIURÁ
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Diz que é assim: quem inventou a bola foram os índios Kamaiurá, muito antes de Cristo nascer. Diz que é assim: três milênios antes de o Brasil sediar a Copa do Mundo de 2014, os Kamaiurá já batiam um bolão com uma bolinha feita com leite de mangaba, que eles confeccionavam, fervendo e moldando a resina como uma esfera até endurecer. Essa pequena bola de borracha, branca, oca por dentro, era elástica e quicava quando batia no chão. Com a bola, eles inventaram o jogo e suas regras, os campeonatos e até o estádio.
Diz que é assim: muitos, mas muitos séculos antes de ser edificado o Maracanã, essa bola já rolava ali no Xingu, num “campo de bola” denominado mangawa rape. Esse – chamemos assim – “Mangabão” ficava localizado em lugar nobre, bem no centro do pátio da aldeia e estava delimitado nas laterais por duas linhas curvas e opostas. Era lá que promoviam o mangawa apitap, um “jogo de bola” disputado entre dois times, em competição intertribal ou como treino e diversão.
No “jogo de bola” Kamaiurá, inventado antes, mas muito antes de os ingleses bolarem o jogo de futebol, cada time entra em campo com seis ou oito jogadores, que ficam em fila, afastados um dos outro em cerca de um metro, obedecendo a várias regras.
– Pode chutar a bola ou pegá-la com a mão, Arnaldo?
– Não! A regra é clara! No “futebol” Kamaiurá, a bola só pode ser tocada com os joelhos e com a cabeça, exceto no primeiro lance, quando o jogador que inicia a partida levanta a bola com a mão. O “gol” acontece quando a bola acerta outra parte do corpo do adversário. Aí – pimba na gorduchinha – os times trocam de lado.
– Tinha campeonato entre os Kamaiurá, Arnaldo?
– Sim, eram disputadíssimos. Quando o time visitante ganhava, os jogadores entravam nas casas dos vencidos e pegavam como premio todos os pertences que ali estivessem: redes, cestas, armas, adornos. Se os visitantes, porém, perdiam, deixavam tudo o que tinham e voltavam para sua aldeia de mãos vazias. (Se isto funcionasse hoje em nosso mundo, o Flamengo, coitado, estaria mendigando). Esses campeonatos aconteceram até os anos 1960, quando o mangawa apitap caiu em desuso, substituído pelo futebol que foi introduzido na aldeia.
– Como é que nós ficamos sabendo de tudo isso, Arnaldo?
– Graças a um grande pajé Kamaiurá, chamado Tarakwaj, que praticou esse jogo e o descreveu em detalhes, em setembro de 1977, na aldeia Ipawu, no Xingu. Outro índio, chamado Kanutary (Koka), que também era pajé, assistiu muitos jogos e deu sua versão, em 2006, em Campinas, quatro anos antes de morrer, para a doutora Lucy Seki, que a publicou com o título “História da Onça: origem do jogo de bola e da huka-huka”.
A boca dos ancestrais
Lucy Seki, linguista brasileira, é uma dessas raras sacerdotisas que dedica sua vida ao estudo das línguas indígenas.Entrou no Xingu, em 1967, como assistente da antropóloga Carmen Junqueira. Cursou doutorado na Universidade Patrice Lumumba, em Moscou, tornando-se a maior especialista na língua Kamaiurá. Atual professora de Linguística Antropológica da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), ouviu da boca dos velhos as narrativas míticas e organizou uma coletânea delas no livro belíssimo “O que habita a boca de nossos ancestrais”, ilustrado com desenhos dos próprios Kamaiurá, lançado recentemente no Museu do Índio, no Rio de Janeiro.
O livro está escrito em Kamaiurá, uma língua da família Tupi-Guarani, com a tradução dos textos ao português. As narrativas, quase todas, foram coletadas na aldeia próxima às margens do lago Ypawu, que significa “água grande”, situada dentro da Terra Indígena do Xingu, um lugar sagrado onde vive desde sempre Mawutsini, a entidade criadora dos Kamaiurá e dos seus heróis civilizadores.
O primeiro branco que passou por lá foi o médico e antropólogo alemão Karl von den Steinen, que desceu o rio Xingu em 1884. Depois disso, poucas expedições percorreram a região, até 1942, quando se iniciou a construção de estradas. Quando Lucy Seki chegou lá, em 1968, apenas dez índios sabiam algo de português. Os mestres na arte de narrar, os moronetajat ou “senhores das histórias”, eram todos monolíngues em Kamaiurá. Três deles contaram suas histórias para a linguista, que gravou o que eles falaram.
Um deles foi o já citado Tarakwaj que tinha 50 anos quando narrou a historia da origem do jogo de bola, em 1977. Entendia algo de português, mas não falava a língua. “Ao narrar, usava com maestria a dramatização dos diálogos e as modulações da voz”, conta Lucy Seki. O outro narrador era Awmari – grande especialista na pesca com flecha e com jequiá. Tinha o apelido de Ariranha e fez 70 anos em 1988, quando contou suas historias gravadas na aldeia Ypawu, em 1988. O terceiro narrador é Kanutary (Koka), cantor e instrumentista, artesão especialista na confecção de cestas e raladores de mandioca, gravou suas histórias na Aldeia do Morená, em 1999 e em Campinas, em 2004 e 2005. Auxiliou também na interpretação das narrativas.
Hoje, embora todos os 500 Kamaiurá falem a língua nativa, houve um considerável aumento de bilíngues. Lucy Seki contou com ajuda de vários deles para fazer a transcrição e a tradução: Janumakakumã, Tatap, Wari e Páltu, este último, filho de Kanutary, faz mestrado em Linguística na UnB e é excelente desenhista. A autora teve o cuidado de dar os créditos a todos eles, publicando suas fotos e uma pequena biografia.
A historia da origem do jogo de bola é uma das oito histórias que integram a obra, repleta de notas com observações etnográficas e contextualização histórica de cada narrativa. A linguista Bruna Franchetto, do Museu Nacional, que faz a apresentação, diz que os ricos comentários etnográficos que acompanham cada narrativa fazem do livro “um empreendimento verdadeiramente enciclopédico”. Editado pela Funai, o livro possui uma versão impressa – que pode ser encontrada no Museu do Índio, no Rio de Janeiro– e também uma versão digital, que pode ser lida na web.
As histórias antigas
O próprio Kanutary (Koka), antes de apresentar sua versão sobre o jogo de bola, comenta com muita propriedade: “As historias que estou contando agora são historias muito antigas, historias de nossas origens. Elas vem sendo passadas de geração em geração, contadas pelos avós para seus netos. Quando os avós morrem, outros contam as historias para seus filhos. Nos tempos antigos, nós narrávamos somente em nossa língua, oralmente, Hoje em dia a moçada sabe lidar com a escrita e a leitura, e nossas historias podem ser registradas no papel”.
Lucy Seki se refere à relação entre o narrador e a audiência, que tem implicações na produção textual. Nas aldeias do Ipawu e Morená, os adultos ouvintes faziam intervenções e as crianças acorriam e se acomodavam para ouvir as historias, apoiando-se nos ombros do narrador, sentando-se em seus joelhos ou no chão. Ela fala de dois grandes desafios. Um deles foi a dificuldade de colocar no papel os recursos da oralidade, tais como altura, duração, entonação e modulação da voz.
“Os recursos sonoros, as pausas, a duração, as mudanças de velocidade, o ritmo, o timbre e as modulações de voz – ora alta, ora suave, ora entrecortada, ora em falsete – tem um papel que não se limita a ilustrar ou colorir o que é dito, mas participam da tessitura da narrativa”- escreve a autora, lembrando os gritos e murmúrios que conferem dramaticidade a algumas cenas, além do movimento do corpo, das expressões faciais, da variação do olhar dos narradores.
Somam-se a essas dificuldades de transpor para o registro escrito as narrativas orais o outro desafio: a tradução entre línguas tão distantes como o Kaimaiurá e o português. Diz a autora: “No trabalho de tradução foi feito um grande esforço para manter no máximo a fidelidade ao original e expressar, ao mesmo tempo, o seu sentido em outra língua. Procurei dosar a literalidade que, se usada em excesso resulta em versões caricaturizadas das narrativas e da cultura, aumentando o preconceito em relação aos povos indígenas. Por outro lado, o excesso de liberdade na tradução resulta na criação de novos textos por parte do tradutor, diluindo assim as vozes dos falantes reais”.
Kanutary (Koka) considera que se eles tivessem recursos, poderiam mostrar em imagens, na televisão ou no cinema, as histórias antigas, com todos os recursos da oralidade. Lamenta em tom profético: “Acabaram-se os velhos narradores. Somos poucos os que restaram, como o meu primo e o Takumã. Nós, velhos, vamos morrer e os Kamaiurá não vão mais ouvir como antes e conhecer as histórias”. Ele morreu em 2010, antes que o livro fosse publicado.
Se os dirigentes da Fifa e da Adidas, responsáveis por batizar a bola da Copa do Mundo de 2010 de Jabulani, tomassem conhecimento das histórias apresentadas nesse livro, certamente dariam bola na Copa de 2014 aos Kamaiurá, cujas narrativas começam sempre com a expressão “diz que é assim” e terminam com o verbo “acabou”. Então, acabou.
OS INDIOS DO SÉCULO XXI
“Índio quer tecnologia” – berra O Globo, em chamada de primeira página (25/05). Lá está a foto de um guerreiro Kamayurá, que usa um iPhone para fotografar o terreno da Colônia Juliano Moreira, em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, onde será construída a aldeia Kari-Oca que vai sediar eventos paralelos da Conferência Rio + 20. Ele viajou de barco e de ônibus, durante três dias, com mais vinte índios do Alto Xingu, de quatro nações diferentes. Chegaram na última quinta-feira, para construir a aldeia Kari-Oca que vai sediar eventos paralelos da Conferência Rio + 20.
FUNAI: “OS CONTRATOS COM INDÍGENAS NÃO TÊM VALIDADE”
. resposta da FUNAI em relação ao post anterior
. . publicado em 13 III 2012
. . . no sítio PUBLICA
O contrato entre a Organização do Povo Munduruku e a Celestial Green foi assinado sem a presença de representante da Funai (Fundação Nacional do Índio), responsável por defender os direitos dos índios e, portanto, por acompanhar negociações comerciais que possam colocá-los em risco. A Pública trouxe a história à tona no dia 9 de março deste ano.
A Funai, no entanto, tomou conhecimento da transação no início de 2011, quando encaminhou o contrato à apreciação da Advocacia Geral da União (AGU). Em seu parecer, a AGU considera o contrato ilegal. Tese que vale para todos os contratos de crédito de carbono em terra indígena no Brasil.
O parecer, ainda não conclusivo, deixa em aberto a possibilidade que outros órgãos da União encontrem meios de regularizar futuros contratos com os indígenas. O presidente da Funai, Márcio Meira, é contra as negociações atuais, como a que envolveu os Munduruku. Mas defende que o comércio de crédito carbono funcione como meio de remunerar os indígenas pela preservação das florestas depois que o mercado for regulamentado no país.
Leia a entrevista:
Como a Funai avaliou o teor do contrato assinado entre os Munduruku e a Celestial Green?
Desde que tivemos o primeiro contrato desse tipo, há um ano e meio, nossa avaliação é de preocupação e alerta em relação ao assédio dessas empresas aos indígenas. Procuramos a assessoria especializada da Funai, que é ligada à Advocacia Geral da União, para que analisasse e, se necessário, tomasse medidas judiciais. Tomamos medidas educativas e de precaução. Fizemos uma cartilha distribuída às comunidades indígenas alertando para contratos que podem ser danosos a elas.
Por que a Funai não alertou os Munduruku sobre a ilegalidade do contrato?
A Funai não estava lá, naquele momento. Ficamos sabendo depois da reunião que os Munduruku tiveram com a empresa. Na maioria dos contratos desse tipo, a gente só toma conhecimento depois.
A Funai não sabia da negociação desde o início de 2011?
A Funai sabe que há negociações em curso, alguns indígenas informam. A gente passa a orientação para terem cuidado em relação a esse assédio, dizemos para não assinar o contrato. Mesmo assim alguns contratos são assinados. Mas eles não têm validade jurídica. Nós alertamos as empresas: esses créditos que estão no mercado voluntário não têm validade.
A informação que temos dos Munduruku é que não houve contato e orientação da Funai.
Isso não é verdade, a Funai está em contato permanente com todos os povos indígenas do Brasil. Temos 36 regionais, quase 300 coordenações técnicas locais, o próprio chefe da coordenação técnica na área é um indígena Munduruku. Ele é a própria Funai.
Mas se a Funai está tão próxima, como não sabia que o contrato seria assinado?
A Funai sabe de reuniões, mas não há como saber em detalhes o que acontece. Principalmente a sede da Funai. Eu não tomei conhecimento dessa reunião, a não ser depois que aconteceu.
Ambientalistas e movimentos ligados às populações indígenas dizem que a Funai está sendo omissa na orientação dos indígenas assediados por essas empresas. Como o senhor responde a essa crítica?
Não concordo, a Funai tem sido ativa, não tem poupado esforços. Essa cartilha que produzimos para alertar sobre os riscos foi feita com movimentos indígenas. Mas é um assédio muito forte. Mexe com recursos altos o que mobiliza os interesses.
Qual é o teor dos outros contratos que a Funai teve conhecimento?
Eles são parecidos. Temos cerca de 30 contratos, todos muito semelhantes e preocupantes porque não têm base jurídica. A Celestial Green é a que mais fez contratos com indígenas, são mais de dez.
O que vai acontecer com os outros contratos que já foram assinados?
Os contratos com indígenas não têm validade jurídica.
Eles também avançam sobre o direito dos indígenas de uso da terra?
Podem ter alguma cláusula que fere o direito territorial. De qualquer forma, esses contratos não têm validade jurídica. Terras indígenas são propriedade da União, indígenas tem usufruto exclusivo. No caso, o comércio de créditos de carbono não está regulamentado pela legislação brasileira e não é possível ser feito em terras indígenas no momento. Por isso a Funai tem defendido que, o mais rápido possível, seja feita uma legislação regulamentando essa questão.
A Funai já intermediou algum contrato de créditos de carbono?
A Funai não intermedia contratos dessa natureza porque eles são ilegais. Tomamos conhecimento de contratos depois de assinados. O único caso foi o povo Surui que nos procurou dizendo que tinha interesse em assinar e pediu orientação da Funai. Demos a orientação que tem que dar para eles terem cuidado.
A Funai acompanhou o contrato?
A Funai tem acompanhado as manifestações dos Surui para que, se eventualmente assinarem o contrato, não caiam em armadilhas. Pode ser que já tenham assinado, mas eu não tenho essa informação .
A Advocacia Geral da União recomenda que os contratos de crédito carbono devem ser intermediados pela União. A Funai vai passar a desempenhar esse papel?
Essa é uma missão da Funai: proteção dos direitos dos indígenas em qualquer tema. Em qualquer política pública em relação aos direitos indígenas, a Funai tem que participar. Mas esse caso depende da regulamentação.
O senhor anunciou a Bolsa Verde como um incentivo para que os indígenas não cedam ao assédio financeiro. Mas R$ 100 mensais fazem frente aos milhões de dólares oferecidos pelas empresas estrangeiras?
O serviço que os indígenas prestam à humanidade na preservação da floresta tropical tem que ser reconhecido. A Funai fez isso quando regulamentou um auxílio aos indígenas no trabalho de monitoramento territorial. Mas temos é que olhar para frente e buscar um mecanismo de crédito de carbono. É uma boa ideia, mas não pode ser utilizada para os interesses econômicos apenas de terceiros. Sendo regulamentado, esse é o principal fator que pode contribuir para beneficiar os indígenas.
Circula a informação pelos jornais de que a Funai está funcionando em ritmo lento desde que o senhor pediu demissão. É verdade?
Sobre esse assunto eu não falo, isso é fofoca. Estou trabalhando aqui todo dia, incansavelmente, desde que cheguei há cinco anos.
A TERRA É DOS ÍNDIOS. E O CARBONO, É DE QUEM?
. publicado em 9 III 2012
. . no sítio PUBLICA
Por US$ 120 milhões, empresa irlandesa compra direitos sobre créditos de carbono dos índios Munduruku, no Pará; contrato investigado pelo Ministério Público valeria por 30 anos. A Funai foi deixada de fora
O português João Borges de Andrade, chefe de operações no Brasil, aparece em fotos rodeado pela população local. “Eu gosto do contato com essas pessoas, elas são muito gentis e muito amigáveis. É emocionante”.
A Celestial Green atua em um novo setor que se fortalece nos recônditos da Amazônia brasileira: a venda créditos de carbono com base em desmatamento evitado, focado nas florestas. Por estes créditos, a empresa tem procurado indígenas de diversas etnias e teria assinado contratos com os Parintintin, do Amazonas, e Karipuna do Amapá, segundo as suas páginas no twitter e facebook.
No dia 22 de setembro do ano passado, o mesmo João Borges, da Celestial Green, foi a uma reunião a respeito de um contrato de crédito de carbono com os índios Munduruku, na Câmara Municipal de Jacareacanga, no Pará. Assim que ficou sabendo, a missionária Izeldeti Almeida da Silva, que trabalha há dois anos com os Munduruku, correu para lá: “Fui pega de surpresa. Depois falei com um dos líderes e ele disse que fazia tempo que estavam negociando com um grupo pequeno de lideranças”.
Quando chegou à sala de reunião, diz a freira, o espaço estava cheio. Estavam todos lá: caciques, cacicas, mulheres e crianças. Muitos vestidos para guerra: pintados, com arcos e roupas tradicionais. A reunião foi fotografada pelos dois lados. “Os guerreiros e as guerreiras estavam muito brabos com o pessoal que foram falar lá em cima”, lembra o cacique Osmarino. “As guerreiras quase bateram neles”.
Segundo Izeldeti, o representante da empresa mal conseguiu falar. “Eles gritavam em voz forte que estavam cansados de ser enganados. Disseram: ‘nós sabemos cuidar da floresta, não precisa de ajuda’. As mulheres guerreiras ficaram na fila e cada uma foi falando em Munduruku. Meteram a flecha perto do coração, passavam no pescoço. O representante da empresa disse que não entendia a língua, mas que não tava gostando porque era sinal de ameaça”. O contrato, no entanto, acabou sendo assinado naquele mesmo dia – tanto a empresa quanto os indígenas confirmam.
De acordo com Izeldeti e Osmarino, porém, o contrato foi assinado contra a vontade da maioria da população Munduruku.
Os donos do carbono
Totalmente desconhecida no Brasil, a Celestial Green, sediada em Dublin, se declara proprietária dos direitos aos créditos de carbono de 20 milhões de hectares na Amazônia brasileira – o que equivale aos territórios da Suíça e da Áustria somados. Juntos, os 17 projetos da empresa na região teriam potencial para gerar mais de 6 bilhões de toneladas de créditos de carbono, segundo a própria empresa.
Os créditos por desmatamento evitado, ou REDD (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação florestal), não são “oficiais”, ou seja, não podem ser vendidos nos mercados regulamentados pelo protocolo de Kyoto. Este protocolo só aceita, por exemplo, a venda de créditos por uma empresa de um país pobre que troque sua tecnologia por uma menos poluente; os créditos que ela deixará de emitir podem ser vendidos.
No caso das florestas, não há um mecanismo oficial que permita isso.
Por isso, os créditos de carbono referentes a florestas são negociados em um mercado voluntário, que não é regulado; empresas como a Landrover, o HSBC, a Google e a DuPont compram esses créditos para sinalizar que estão fazendo algo de bom pelo meio ambiente. O mercado é muito menor do que aquele resultante de projetos previstos por Kyoto: em 2010, o valor negociado foi de cerca de 400 milhões de dólares contra 140 bilhões de dólares do mercado “oficial”.
Na esteira da corrida pelo invisível – créditos de carbono que deixaria de ser emitido por desmatamento – a irlandesa Celestial Green se adiantou: realizou diversas negociações rápidas e à margem de qualquer órgão federal. A empresa promete avaliar o potencial de créditos de carbono depois; mas já garante sua posse sobre eles, por contrato, e o acesso às terras para avaliação.
Os Munduruku
A proposta aos Munduruku foi feita em junho do ano passado. Segundo relatos dos indígenas, a oferta dividiu o grupo. A Celestial Green oferecia 4 milhões de dólares por ano, ao longo de 30 anos, pelos créditos de carbono dos 2,3 milhões de hectares da terra indígena – num total máximo de US$120 milhões. Em troca, teria todos os direitos sobre os créditos de carbono e mais “outros certificados e benefícios” a serem obtidos “com a biodiversidade”.
“Primeiro, ele [representante da Celestial Green] falou que o projeto é para defender os povos indígenas. Disse que não podia mais mexer na terra, nem branco nem indígena. Quando ouvi essa conversa, era bom”, conta Osmarino Manhoari Munduruku, cacique de uma das 111 aldeias onde vivem mais de 6 mil Munduruku. “Depois, ele mandou o papel para associação. Nós vimos que, onde esse projeto tá, não pode fazer roça, nem caçar, nem pescar. Hoje estamos acostumados de plantar mandioca, batata, cana, batata doce, banana. A gente pesca, caça, tira madeira quando precisa. Mas eles dizem que não podia mais, eles mesmos iam dar o dinheiro para comprar os alimentos. E os indígenas não pode mais fazer nada, nada, nada. Aí a maioria achou que não é certo”.
A Pública teve acesso ao texto do contrato enviado por lideranças indígenas ao CIMI, Conselho Indigenista Missionário, depois das primeiras gestões da empresa. O documento revela claramente as linhas gerais buscadas pela empresa no acordo.
“Este contrato concede à empresa o direito de realizar todas as análises e estudos técnicos, incluindo acesso sem restrições a toda a área, aos seus agentes e representantes”, diz o documento. Se as áreas negociadas não se adequassem à captação de carbono, o contrato seria invalidado. De qualquer maneira, a empresa teria assegurado o direito de fazer um levantamento detalhado de toda a área dos Munduruku.
O contrato vetava qualquer modificação no ambiente: “O proprietário compromete-se a não efetuar quaisquer obras na área do contrato, ou outra atividade que venha a alterar a qualidade de carbono captado ou que contribua de alguma forma para afetar negativamente a imagem da empresa ou do projeto”.
Outro ponto polêmico garantia à empresa “direitos sobre os créditos de carbono obtidos, com quaisquer metodologias utilizadas”, além de “todos os direitos de quaisquer certificados ou benefícios que se venha a obter através da biodiversidade desta área”.
Além disso, os Munduruku deixariam de receber o pagamento caso não submetessem suas atividades ao crivo da Celestial Green: “O proprietário compromete-se a manter a propriedade em conformidade com as metodologias estabelecidas pela empresa”. O valor, contido num anexo, chama a atenção: 4 milhões de dólares por ano, chegando a um valor total de 120 milhões de dólares.
Segundo especialistas consultados pela reportagem, dificilmente um contrato assim teria validade legal. Primeiro, porque parte de princípios jurídicos errados. O texto analisado se refere aos Mundurukus como “proprietários”, quando as terras indígenas pertencem à União. Depois, porque viola princípios de exclusividade de uso dada aos indígenas em terra homologada. “É totalmente ilegal. A empresa se coloca como dona dos recursos naturais e se atribui o direito de entrar quando bem entender para fiscalizar. Em algumas cláusulas, ela quer fazer o papel do Estado”, afirma João Camerini, advogado da ONG Terra de Direitos.
Para o antropólogo Miguel Aparicio, coordenador do Programa Operação Amazônia Nativa, o caso dos Munduruku deve servir de alerta para o governo. “É uma manifestação aberta da postura dos ‘biopiratas do carbono’. As cláusulas ignoram o direito indígena de usufruto exclusivo sobre suas terras, reconhecido pela Constituição Federal. O contrato proposto merece a intervenção urgente do poder público brasileiro”.
Como o mercado de crédito de carbono é novo, o governo brasileiro ainda não criou parâmetros para regular essas negociações. Mas, dada a urgência da questão, 15 entidades e movimentos ligados às populações indígenas elaboraram uma carta de Princípios e Critérios Socioambientais de REDD. Alguns desses princípios são a participação de toda a população afetada no processo de decisão e a transparência sobre os detalhes do contrato e do mercado em que estão entrando.
O caso dos Munduruku foi denunciado em setembro no ano passado no blog da ativista ambiental Telma Monteiro. O procurador Cláudio Henrique Dias, do Ministério Público Federal de Santarém, abriu um procedimento administrativo para investigar o caso. Ele pediu a cópia do contrato à Associação Pussuru, que representa os Munduruku, e acionou a Funai.
A Funai não quis se pronunciar nessa reportagem mas prometeu uma entrevista com o presidente Márcio Meira para a semana que vem.
Corretores de carbono, xeretas, piratas?
Antônio José do Nascimento Fernandes, mestre em Química pela Universidade Federal do Amazonas e conselheiro-secretário do Instituto Amazônia Livre, pensa diferente. O Instituto mantém um projeto com a Celestial Green de “monitoramento e levantamento dos dados das florestas, das comunidades, do que pode ser desmatado daqui a 20, 30 anos”.
Para ele, que trabalha com a empresa há cerca de um ano, o contrato assinado com os Munduruku não limita o uso da terra pelos índios: “A única coisa que fala no contrato é que eles [os índios] devem preservar os recursos e que todo uso deve ser informado”. E como isso será informado? Segundo Antônio, o plano é elaborar um conselho formado “pelas instituições financeiras, pelos representantes indígenas e pela Instituição Amazônia Livre”, para deliberar sobre isso. “Não é de cima para baixo. É um projeto de igual pra igual. É uma troca mútua, porque eles consomem, mas sabem que [os recursos] podem acabar”.
A Celestial Green não é exatamente uma empresa transparente. O site da empresa, que está em construção há alguns meses, não traz mais do que uma descrição genérica, embora declare que há três anos a empresa vem negociando com prefeituras, proprietários de terra e tribos indígenas da Amazônia.
Os objetivos declarados dos projetos da Celestial, comandada pelo irlandês Ciaran Kelly, são: “alcançar lucratividade para todos os investidores”, “proteger áreas da floresta em risco dos efeitos devastadores da extração ilegal de madeira, mineração ilegal e queimadas”, “proteger a biodiversidade presente nessas áreas e conduzir atividades importantes de coleta de dados”, além de “fornecer empregos, educação e cuidado médico básico para os habitantes das áreas dos projetos”.
Segundo o site, os projetos estão em negociação com investidores no Panamá, Ásia, Vietnã, Malásia, Coreia do Sul e China.
A parte que promete ao visitante “descubra mais sobre nossos projetos” está em construção. Não há mais detalhes.
Em 27 de junho de 2011, a empresa anunciou vagamente ter “aumentado a sua base de contratos na Amazônia brasileira”. “A Celestial Green Ventures PLC aumentou o tamanho de sua base de terras contratadas em 1.203.226 de hectares (um aumento de 6,5%) com a assinatura de 5 novos contratos garantindo à empresa a produção de qualquer tipo de carbono nestas terras pelos próximos 30 anos”. Segundo o release, a empresa se listou na bolsa Deutsche Boerse, em Frankfurt, com a missão de dobrar a área contratada para 40 milhões de hectares (duas Suíças, duas Áustrias).
Mais recentemente, em fevereiro deste ano, a companhia anunciou pelo seu twitter novos contratos com as prefeituras de São Gabriel da Cachoeira, Boca do Acre e Apuí, no Amazonas, totalizando 11 milhões de hectares cujo carbono também ficará à sua disposição.
O projeto “Borba”
A empresa tem um caso que é apresentado como bem-sucedido: o chamado “projeto Borba”. O projeto, acordado com o prefeito de Borba, município de 20 mil habitantes no sul do Amazonas em 2010, não teve até hoje os créditos validados – uma empresa escocesa, a Ecometrica, está ainda desenvolvendo uma metodologia para medir e validar os créditos gerados, ou o tanto de carbono que não será jogado no ar pela proteção das áreas. “Um comunicado oficial será emitido na hora certa”, limita-se a dizer a empresa.
Segundo um release que foi apagado do site, o projeto Borba consistiu na assinatura de um contrato com a prefeitura do município, intermediado pela ONG FEAMA – Fundação Ecológica de Amazônia – ONG capitaneada pelo brasileiro Romeu Cordeiro da Silva. A FEAMA não tem site na internet, nem telefone de contato.
O acordo dava direitos a créditos de uma área de 1.333.578 hectares, cerca de 1/3 do município.
Procurados pela Pública, nem o secretário de administração da prefeitura, Ricardo José Sá de Souza, nem o secretário de Meio Ambiente sabiam do acordo.
Finalmente a Pública conseguiu conversar com o prefeito Antonio José Muniz Cavalcante, que não explicou por que seus secretários não foram informados do caso. “A Celestial Green apareceu, falou com a associação de municípios. Como temos uma reserva municipal, fizemos um contrato que dá direito de eles negociarem o carbono nesta área. Vieram no município, fizeram um projeto e coletaram bastante material. Mas não tivemos benefícios. Esse contrato já está até quebrado, porque o prazo deve estar vencido. E como não tivemos retorno, pelo menos no que propuseram a nos pagar, nada foi desembolsado”.
Apesar dos créditos de Borba não terem sido validados – e, aparentemente à revelia da prefeitura – a Industry RE, companhia britânica de investimentos anunciou em 7 de junho de 2011 a compra de 1 milhão desses créditos para serem revendidos a outras empresas. A empresa afirma, numa brochura, que vai cobrar 10 libras por cada crédito de carbono.
A Industry RE fornece créditos de carbono para o grupo Guardian Media Group, que detém o jornal britânico Guardian. Além disso, mantém o simpático site My Tree Frog, no qual cada pessoa pode comprar créditos de carbono de onde quiser, “anulando” assim as suas próprias pegadas ecológicas.
Segundo o diretor Ian Hamilton afirmou no início de março ao site econômico Point Carbon News, os créditos de Borba seriam usados para aliviar as emissões de uma subsidiária da Coca-cola no Oriente Médio e uma unidade da gigante eletrônica japonesa Canon.
Uma brochura da IndustryRE que tenta vender esses créditos de Borba afirma que a Celestial Green tem acesso a uma área de 18.192.193 de hectares por 30 anos, incluindo acordo com diversas prefeituras no estado do Amazonas. Os maiores terrenos estão no estado do Amazonas: 2.954.902 hectares em Barcelos, 1.066.862 hectares em Caruari; 1.761.189 hectares em Manicoré, e 1.440.585 hectares em Canutama – além de Borba, claro.
Segundo o documento, os projetos da Industry RE não focam apenas os créditos de carbono, mas pretendem “expandir os parâmetros” para incluir o desenvolvimento de energia e água limpa, reflorestamento, manejo sustentável de florestas e conservação.
Além disso, a Celestial Green possui 10 mil hectares em Rondônia, terra adquirida do Capital First Merchant Bank Ltda. Mas isso é outra história.
De vinis e ouro à sonhada preservação do meio ambiente
O “projeto Rondônia” é o mais antigo da Celestial Green Ventures, aliás Celestial Green Investments (CGI), uma empresa de investimentos sediada em Kent, na Inglaterra, que tem como CEO o mesmo irlandês Ciaran Kelly.
O projeto baseia-se em uma área de 10 mil hectares em Rondônia e foi detalhadamente descrito em um documento – registrado junto ao Security and Exchange Comission, comissão financeira dos Estados Unidos – de compra de ações da CGI pela empresa de investimento Apollo Capital, com sede em Miami – da qual Ciaran Kelly era um dos diretores.
Antes de investir em negócios sustentáveis, a Apollo Capital chegou a prensar vinis e copiar CDs e DVDs. No seu site registra investimentos milionários em bonds do banco central da Venezuela, da Petrobras e também em exploração de quartzo na Bahia.
Essa área em Rondônia, localizada no município de Machadinho d’Oeste, é adjacente à terra indígena dos Cinta Larga e foi comprada pela Apollo Capital da empresa brasileira Capital First Merchant Bank Ltda junto com a concessão para exploração de ouro e diamantes, fato celebrado em seu site.
Meses depois, Apollo e Celestial Green mudaram de idéia: decidiram não fazer a mineração da área e vender os créditos de carbono não emitido por não ter explorado o local. “A Celestial Green acredita que o desenvolvimento de operações de mineração teriam um impacto ecológico catastrófico”, diz o documento de registro. Créditos de carbono do “projeto Rondônia” estão disponíveis para os usuários do site Tree Frog. Quem quiser aliviar sua pegada ecológica, é só clicar.
“Our people”
Nem mesmo a equipe que compõe a empresa consta do site da Celestial Green. Quando a Pública começou a investigar a CG, a empresa listava 29 pessoas como sua equipe, incluindo diversos brasileiros. Dois dias depois, a lista sumiu.
A Pública tentou entrar em contato com alguns desses supostos funcionários. Na tarde de quinta-feira, conversou com o professor Eder Zanetti, doutorando em manejo florestal pela UFPR, um consultor experiente em projetos de crédito de carbono. Eder foi responsável pela área de mudanças climáticas globais e serviços ambientais das florestas no Centro Nacional de Pesquisas Florestais da Embrapa.
Ao celular, perguntado sobre suas relações com a empresa irlandesa, ele se mostrou surpreso: “Não tenho conhecimento, não. Nunca vi nem falar esse nome [Celestial Green]”. Segundo ele, a sua consultoria foi procurada por “diversas empresas internacionais querendo fazer negócio com terra indígena aqui no Brasil”. A procura, nos últimos dois anos, tem aumentado. “Mas não estou fazendo consultoria para nenhum projeto no momento”.
Mais tarde, por email, Zanetti confirmou: “De fato não consegui entender a natureza do meu envolvimento com a referida empresa. Eu não saberia dizer nem se ela é séria ou não, porque não consegui navegar no site para ver quem são os proprietários. Definitivamente não sou funcionário deles”.
Outro brasileiro listado no site explicou que atua como consultor em um projeto da CG. Vivaldo Campbell de Araújo foi delegado do IBDF – atual Ibama – de 1971 a 1978. Ele conta que não sabia que seu nome estava no site, mas havia pedido reserva. Não queria ser listado como membro da empresa. “Porque você sabe, tem muita especulação”. Segundo ele, faz cerca de oito meses que ele é consultor de um projeto de manejo sustentável que pretende “mostrar as alternativas de manter o carbono, mas alterar as florestas pelas espécies mais valiosas”.
Contrato questionado
A Pública procurou repetidamente a Celestial Green. Por telefone, a funcionária Paula Cofré, brasileira nascida no Chile, explicou que o CEO Ciaran Kelly não dá entrevistas pelo telefone – apenas por email. Formada em jornalismo pela PUC do Paraná, Paula trabalha há cerca de 6 meses na empresa. Foi contratada inicialmente como secretária e hoje é “administradora sênior e assistente pessoal do CEO”. Segundo ela, o representante português João Borges não costuma dar entrevistas.
Paula confirmou a assinatura do contrato entre a Celestial Green e os Mundukuru e disse que a empresa não conta com um escritório no Brasil. “Temos pessoas trabalhando em Manaus, mas ainda não abriram (um escritório)”. A Pública enviou a minuta de contrato obtida pelo CIMI, pedindo que a empresa confirmasse se havia alguma diferença quanto ao contrato assinado. “Eu sei que eles não costumam dar detalhes sobre os contratos, tipo valor, essas coisas”, explicou Paula.
Finalmente o CEO respondeu – sem responder: “Podemos afirmar categoricamente que os contratos da CGV PLC têm sempre o cabeçalho com os detalhes da empresa, são assinados em cada página por um representante da empresa, são autenticados e também contêm um carimbo da companhia”.
Pouco depois, Antônio José do Nascimento Fernandes, do Instituto Amazônia Livre, uma ONG que trabalha com a Celestial Green em alguns projetos, ligou para a Pública e leu o anexo 1 do contrato, confirmando que se trata do mesmo texto – inclusive reafirmando os valores acordados.
Na sua entrevista em papel timbrado, Ciaran afirmou que “a Celestial Green Ventures não pode divulgar nenhum acordo financeiro que tenha sido feito com nossos parceiros”. Mas prometeu: “no final de julho de 2012, nosso primeiro ano completo de finanças será apresentado”.
A Pública vai esperar pra ver.
OS TARUMÃ VIVEM
O Tarumã é um povo muito importante na história de Manaus e do Amazonas. Marcou nossa identidade regional e nossos lugares de memória. Mas nós, brasileiros, especialmente os amazonenses, acreditamos piamente que esse povo não existe mais e que seu idioma é uma língua morta. Tal crença foi reforçada até mesmo por quem digita essas mal traçadas.
Acontece que a documentação histórica até então conhecida assegurava que os Tarumã foram varridos de seu território na região do baixo Rio Negro e exterminados, num processo iniciado com a construção do Forte de São José da Barra do Rio Negro, em 1669, que deu origem à cidade de Manaus. Não sobrou um Tarumã para contar a história.
Ledo engano. Sobrou sim. Os Tarumã continuam vivinhos da silva, em pleno século XXI. Eles vivem atualmente em uma comunidade wapishana na ex-Guiana Inglesa, perto de Lethem, uma cidadezinha às margens do rio Tacutu que faz fronteira com o Brasil e fica em frente à cidade de Bonfim, em Roraima, para onde migraram fugindo da violência dos portugueses.
A língua Tarumã, considerada como extinta, na realidade continua sendo falada, conforme descobriu a lingüista Eithne Carlin, da Universidade de Leiden, na Holanda. Ela pesquisa as línguas ameríndias faladas na ex-Guiana Inglesa, no Suriname e na Guiana Francesa e localizou um grupo de falantes do Tarumã. Agora está documentando a língua deles. Embora na área de fronteira os grupos demograficamente maiores sejam os Wapishana e Waiwai, muitos topônimos na bacia do rio Rupunini são originalmente da língua Tarumã, o que pode indicar a importância deles na região.
Quem me passou essa informação sobre o trabalho de Eithne Carlin foi outro linguista holandês, Willem Adelaar, da mesma Universidade de Leiden, durante o Encontro Internacional de Arqueologia e Lingüística histórica, realizado em Brasília, no auditório do Memorial Darcy Ribeiro, na semana de 24 a 28 de outubro – uma iniciativa do Laboratório de Línguas Indígenas da UnB e da PUC do Peru.
O encontro, coordenado pelos lingüistas Aryon Rodrigues e Ana Suely Cabral, reuniu os bambambãs e especialistas, entre os quais arqueólogos, linguistas, antropólogos, historiadores, museólogos, de várias partes do mundo. Trata-se de um momento singular, que nos permite recuperar informações como essa sobre os Tarumã. Ao contrário de alguns eventos acadêmicos, onde cada um fala o que tem pra falar e ninguém discute o que foi dito, nesse evento cada palestra, conferencia ou comunicação era seguida de questionamentos, observações e indagações.
Talvez no momento em que se comemora mais um aniversário de Manaus seja oportuno relembrar alguns dados que já foram registrados aqui na coluna. Na ocasião, reconstruímos parte da história do povo Tarumã, usando pesquisas do lingüista tcheco – Cestmir Loukota, de um viajante alemão – Robert Schomburgk, de um historiador inglês – John Hemming, e de um padre português – Serafim Leite, que em 1905, ainda jovem, trabalhou como seringueiro no rio Negro.
No século XVII, os Tarumã foram misturados com outros índios pelos jesuítas que abriram caminho aos missionários carmelitas, com a criação de uma ‘aldeia de repartição’. De lá, muitos deles foram repartidos para prestar trabalho compulsório aos colonos, aos missionários e à Coroa Portuguesa em Belém. Os Tarumã que recusaram foram massacrados na “guerra justa” promovida por Pedro da Costa Favela, entre 1665 e 1669. Muitos deles, escravizados, trabalharam na construção do Forte de São José do Rio Negro, em 1669, que deu origem à cidade de Manaus.
Quando o padre jesuíta Samuel Fritz passou pelo rio Negro, por volta de 1690, encontrou o chefe Tarumã, conhecido como Karabaina, com o corpo coberto de cicatrizes, marcas das constantes violências cometidas pelos portugueses, conforme nos conta John Hemming, autor do livro “Red Gold”, o ouro vermelho, representado – no dizer do padre Vieira – pelo sangue derramado dos índios escravizados.
Começou, então, o longo êxodo dos sobreviventes. A última notícia que temos dos que permaneceram na proximidade de Manaus foi dada pelo Comandante Militar da Comarca do Alto Amazonas, Lourenço da Silva Amazonas (1803-1864), que relata como, em 1808, centenas de índios foram levados, ‘acorrentados, como se fossem condenados’, para o trabalho na fazenda do Tarumã, de propriedade do governador José Joaquim Vitório da Costa. Nessas alturas, os Tarumã jã haviam sido espoliados e expulsos de seus territórios.
Em sua fuga, subindo o rio Negro, os Tarumã foram invadindo territórios de povos que falavam línguas da família Aruak, com quem mantiveram diferentes tipos de relação, quase sempre conflitivas, mas às vezes amistosas. Na sua longa marcha, eles foram parar no extremo norte, na Guiana, em pleno território Karib, onde se fixaram e fizeram alianças com povos dessa família lingüística, o que favoreceu a realização sistemática de casamentos interétnicos.
Por volta de 1837, o alemão Robert Schomburgk a serviço dos ingleses, encontra ao longo dos rios Essequibo e Cuyuwini cerca de 150 índios Tarumã que haviam chegado à Guiana Inglesa, depois de haverem percorrido mais de 2.000 km pelo rio e pela floresta. Foi lá que o antropólogo William C. Farabee, da Universidade de Harvard, os encontrou, em 1916, misturados com os Wai-Wai, de filiação Karib. Depois disso, acreditávamos que estavam extintos, o que agora sabemos não ser verdade, graças ao trabalho da linguista E. Carlin. Ainda bem.
A ANTA QUE VIROU ELEFANTE NUM DOMINGO ESPETACULAR
por
Festival chileno recebe filmes com temas indígenas até 6 de setembro
CHILE : 20.08.10
Tatiana Félix : Jornalista da Adital
O Centro Cultural Coletivo Cine Fórum de Valparaíso, no Chile, convida cineastas a inscreverem seus filmes com temáticas indígenas e povos originários até o dia 6 de setembro. O material será apresentado durante o II Festival de Cinema dos Povos Indígenas e Povos Originários do Mundo, que será realizado de 11 à 15 de Outubro deste ano, em Valparaíso, no Chile.
Podem participar curtas, médias e longas metragens, documentário, ficção, animação e etc. Os filmes concorrem ao prêmio “Moises Huentelaf”, em homenagem ao militante do Movimento Campesino Revolucionário, assassinado em 1971. As obras serão classificadas por temas, entre eles: questão de território, memória histórica, saúde e medicina, identidade, festas religiosas e outros.
O tema principal do festival será a Amazônia Peruana, região de interesse de multinacionais e de países que querem privatizar e depredar os recursos naturais. O festival destaca para o fato de que o mundo indígena defende com sua própria vida, o seu habitat natural. O Cine Fórum ressaltou que a ideia é também mostrar a repressão que as comunidades Mapuches vêm sofrendo por parte do governo chileno.
A Nicarágua está sendo convidada a apresentar uma retrospectiva cinematográfica que revele o mapeamento étnico do país. Para isso, é esperado a participação de um representante indígena que exponha sua visão.
A coordenação do festival ressalta o direito indígena à autonomia ou autogoverno, o controle de suas terras e recursos naturais, a preservação da cultura e tradições, entre outras questões, como prevê a Declaração Universal dos Direitos dos Povos Indígenas, aprovada em 2007, pela Assembleia das Nações Unidas.
“Convidamos o mundo cultural, social e político a exigir que esta Declaração Universal seja obrigatória para a Constituição da República neste bicentenário”, pontuam.
Mais informações, acesse: www.cineforum.cl
fonte : adital
Esperança de que os terena não voltem a conversar com o espelho
POR JOSÉ RIBAMAR BESSA FREIRE
Maria de Lourdes e Celinho Belizário
Escrevo da aldeia Cachoeirinha, em Miranda (MS), onde acabo de presenciar uma operação arriscada. Vi como desmontaram o gatilho de uma arma infernal que já causou mortes e emudeceu vozes, criando um silêncio de cemitério. O gatilho assassino foi desarmado por dois Terena – a professora Maria de Lourdes Elias Sobrinho, ex-empregada doméstica, filha de um índio plantador de milho, arroz, feijão e banana – e seu colega, o professor Celinho Belizário, ex-cortador de cana.
Nessa sexta-feira, 13 de agosto, cada um deles defendeu sua dissertação de mestrado na Universidade Católica Dom Bosco (UCDB) de Campo Grande (MS), que abriu seu Programa de Pós-Graduação em Educação para formar pesquisadores indígenas, com apoio da Fundação Ford.
No entanto, a defesa aconteceu – o que é inédito no Brasil – não no campus universitário, mas dentro da própria aldeia. Fomos nós, os professores da banca de avaliação, que nos deslocamos até lá, num movimento que não se limitou a uma simples troca de espaço, mas implicou mudança de perspectiva: a universidade desceu de suas tamancas e com isso ampliou seu universo de conhecimentos.
Maria de Lourdes fez a apresentação oral, toda ela em língua terena, para compartilhar sua pesquisa com os índios ali presentes. Na medida em que falava, o data-show ia projetando o texto da tradução ao português, permitindo que a banca e o público não-indígena acompanhassem sua fala. O trabalho escrito também é, em grande medida, bilíngue em terena e português. Essa foi, talvez, a primeira vez no Brasil que um índio não precisou renunciar à sua língua para ter um diploma reconhecendo aquilo que sabe.
O boi baba
A pesquisa de Maria de Lourdes procura identificar, justamente, os mecanismos engatilhados contra a língua terena, buscando um escudo para protegê-la. Através desse caso particular, é possível entender o extermínio, em cinco séculos, de mais de mil línguas indígenas, que deixaram de ser faladas no Brasil. Cerca de 180 delas continuam ainda resistindo, como a língua terena. De que forma foi possível silenciar tantas vozes que enriqueciam o patrimônio cultural da humanidade, sepultando com elas cantos, narrativas, poesia, músicas e saberes?
As tentativas de sufocar a língua terena – um crime de glotocídio – foram testemunhadas pela própria Maria de Lourdes, em sua infância. “Da primeira até a quarta série do Ensino Fundamental, cursei na Aldeia Cachoeirinha de 1968 a 1972, minha professora era purutuye (branca). Quando cheguei à sala de aula, meu primeiro impacto foi com a questão da língua, isto é, eu, falante da língua terena e a professora da língua portuguesa. Quando ela começou a explicar a matéria, parecia que eu estava em outro mundo, pois não entendia nada do que ela estava falando”.
Lourdes se lembra de sua primeira cartilha – O caminho suave – onde lia que “o boi baba”, em voz alta, mas não entendia bulhufas. “Em 1976, na cidade de Miranda, fui para uma escola pública cursar a 5ª série à noite. Numa das aulas, a professora pediu para eu ler um texto de história. Li. Depois ela me pediu para explicar aos colegas o que tinha lido. Sem dizer nada, comecei a chorar, pois não sabia o que o texto dizia, eu não falava a língua portuguesa”.
Lourdes chegou a estudar num convento de freiras, em 1975. Lá, “era tudo estranho, a começar pela língua. Não entendia o que as freiras falavam comigo. Lembro quando uma freira me pediu água. Fiquei parada na cozinha sem saber o que ela tinha pedido. Eu não perguntava o que ela queria, pois não sabia nem como perguntar. A minha comunicação com elas era bom dia, boa tarde e boa noite. Essas foram as primeiras palavras que me ensinaram”.
Quando saiu do convento, Lourdes foi trabalhar como empregada doméstica. “Trabalhava de dia, e à noite estudava o segundo grau numa escola pública, mas tinha vergonha de falar a língua terena no meio dos brancos, isto porque não queria que eles percebessem que eu era índia, pois quando percebiam me isolavam do grupo”. Com a língua, ela silenciou também brincadeiras infantis, danças, benzimentos, cantos, pajelança e até a culinária terena, especialmente o lapâpe – uma massa de mandioca aberta como uma pizza e preparada na frigideira quente.
Lourdes foi atingida no próprio corpo pelos disparos de uma arma letal, que assassina almas e emudece vozes. Dessa forma, descobriu o mecanismo de extermínio, que começa com a discriminação da língua indígena considerada pelo senso comum preconceituoso como “inferior” ou “pobre”. Depois vem a proibição de falar essa língua, o que significa enxotar da escola os conhecimentos tradicionais que ela veicula. Em seguida, a obrigação de aprender a ler em português, uma língua desconhecida. Por último, o falante se automutila, na medida em que é obrigado a esconder sua identidade.
Rito de passagem
Quando Lourdes se formou no Curso Normal Superior Indígena e foi lecionar na primeira série do ensino fundamental, na Aldeia Cachoeirinha, constatou que apesar das garantias constitucionais e do direito dos índios de serem alfabetizados em suas línguas maternas, a escola continuava fazendo com as crianças aquilo que havia feito com ela. As crianças não aprendiam a ler em terena, apresentando alto índice de repetência e evasão escolar.
Foi aí que Lourdes decidiu romper esse círculo vicioso, organizando a resistência ao desmontar os mecanismos que acabariam com sua língua materna. Como coordenadora pedagógica da escola, ela elaborou e implantou em 2007 o projeto de alfabetização e produziu a cartilha “Ler e Escrever na Língua Terena”. O português passou a ser ensinado como segunda língua.
A pesquisa de Lourdes no mestrado teve como objetivo analisar essa experiência. Ela realizou testes de leitura e compreensão de texto com crianças terena alfabetizadas na língua indígena e com outros alfabetizados em português. Os resultados foram surpreendentes: no primeiro caso, as crianças que liam e escreviam em Terena, se expressavam com mais fluência inclusive em português e interpretavam textos com mais facilidade nas duas línguas.
As duas pesquisas – a de Lourdes e a de seu colega Celinho, que analisou o projeto político pedagógico da escola – se apropriaram das teorias e dos conceitos dos autores nacionais e estrangeiros indicados por seus respectivos orientadores: a doutora Adir Casaro e o doutor Antônio Brand da UCDB. No início não foi fácil: “O Homi Bhabha não queria conversar comigo” – disse Lourdes, com humor, referindo-se ao teórico indo-britânico, que analisou o confronto de sistemas culturais e cuja noção de entre-lugar como local da cultura acabou se tornando familiar a ela.
Alguns autores brasileiros como Aryon Rodrigues, Ruth Monserrat e Roberto Cardoso de Oliveira, serviram aos dois pesquisadores que, além disso, realizaram observações na aldeia e na escola. Entrevistaram velhos, professores, alunos, pais de alunos, registraram as falas nas reuniões de trabalho, consultaram os textos de autores indígenas de outras línguas como Higino Tuyuka, Chiquinha Pareci e Darlene Taukane, cruzaram as fontes orais com as fontes escritas. Enfim, produziram uma pesquisa de qualidade, como assinalou a doutora Marta Azevedo, da Unicamp, membro da banca.
“Os Terena estão buscando novas formas de sobreviver em meio a essa cruzada de flechas e às novas e gigantescas colunas de fogo que se alastram em direção a nós, vindas do entorno regional” – escreveu Celinho, que definiu sua pesquisa como “a semente de um sonho”, porque “outros pesquisadores indígenas continuarão essa reflexão”.
Na ocasião, duas cerimônias foram realizadas pela comunidade terena para celebrar o nascimento dos novos mestres. Lourdes entrou no recinto, acompanhada dos membros da banca, passando no meio de duas fileiras formadas por meninas que dançaram o Xiputrena, animadas por um tocador de pife (oxoti étakati) e um tocador de tambor (ixúkoti pepêke). Já Celinho foi recebido com o Kohitoxi Kipâhi ou dança do bate-pau, numa fileira meninos com os corpos pintados de vermelho e na outra, de azul. Tinha algo de belo e de sagrado na reverência daquelas crianças aos novos suportes do saber.
Há alguns anos, o último falante de uma língua indígena foi considerado doido, porque conversava em língua xetá com sua imagem projetada no espelho, como uma forma dramática de manter sua identidade e sua memória. As pesquisas dos dois novos mestres fazem parte de uma estratégia, uma esperança para que nenhum terena jamais precise conversar com o espelho. Que Orekajuvakai nos ouça!
O professor José Ribamar Bessa Freire coordena o Programa de Estudos dos Povos Indígenas (UERJ), pesquisa no Programa de Pós-Graduação em Memória Social (UNIRIO) e edita o site-blog Taqui Pra Ti
Em 7 anos, apenas três terras Guarani foram homologadas
Adital
11.02.10 : BRASIL
Do total de 74 Terras Indígenas (TIs) homologadas pelo Governo Federal do início de 2003 até outubro de 2009, apenas três contemplam o povo Guarani, uma das maiores populações indígenas do país. Levantamento da Comissão Pró-Índio de São Paulo (CPI-SP) revela que 80% dos territórios Guarani localizados nas regiões Sul e Sudeste do país não foram regularizados ou se encontram regularizados com pendências.
E mais: 50 das 120 terras com presença Guarani não estão sequer reconhecidas nas estimativas oficiais e, portanto, não são sequer divulgados pela Fundação Nacional do Índio (Funai). Os dados fazem parte do livro “Terra Guarani no Sul e no Sudeste”, lançado pela CPI-SP no final do ano passado.
O povo indígena Guarani representa 10,2% do total de índios em território nacional e abrange mais de 55 mil índios, distribuídos principalmente nas regiões Sul (RS, SC, PR), Sudeste (SP, RJ, ES) e Centro-Oeste (MS). Existem Guarani em outros quatro países: Argentina, Paraguai, Uruguai e Bolívia.
Fonte: Repórter Brasil, por Bianca Pyl
Fonte:
Puelmapu
. extraído do wiki-lingue
Puelmapu , (mapudungún: puelmapu, ‘terra do este’ ) ? é a parte do Wallmapu ou territóriomapuche que está ao este da Cordillera dos Andes. Na concepção tradicional mapuche, o mundo terrenal ou Nagmapu (mapudungún: nagmapu, ‘terra de abaixo’ ) ? está-se composto por quatro partes (Meli Witran Mapu, os “quatro cantos da terra”), das que uma é o Puelmapu.
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Descrição
Ao conjunto de relações espaciais e particularidades territoriais do mundo mapuche no plano do Nag Mapu, denomina-se-lhe Meli Witran Mapu. A maneira de entender a terra pengel (mapudungún: pengei, ‘visível’ ) ?que habita o mapuche organizada a partir dos meli zuam (Mapudungún: Meli: quatro e zuam :lados da terra), lados que definem particulares modos de vida a partir da maneira em que o Mapuche se relaciona na cada um deles com a natureza e o médio que os rodeia. Ao este do Nagmapu esta a Cordillera dos Andes , lugar (mapudungún: che mogekeygün, ‘onde habitam’ ) ? Pehuenche e onde o antü (mapudungún: antu, ‘sol’ ) ? sai nas manhãs . Ali a água é pire (mapudungún: pire, ‘neve’ ) ? e transforma-se em rios, seus habitantes possuem uma relação estreita com as piñaderías das cimeiras. Ali na Mawizantumeu (mapudungún:Mawizantumeu, ‘cordillera’ ) ?, o mapuche habita apesar de ser espaço não domesticado.
O Puel Mapu é hoje parte da Argentina, habitado pelos puelches (em sentido posicional, não histórico), se estende entre os rios Quarto eDiamante, pelo norte, até os rios Limay e Negro pelo Sur, sendo seu limite Este o rio Salgado de Buenos Aires (ou para 1750 a linha dos fortines e povos de San Nicolás dos Ribeiros, San Antonio de Areco, Luján e Merlo) e o Cá Füta Lafken (oceano Atlántico) e o oeste a Cordillera dos Andes.
Veja-se também
Referências e notas de pé
Bibliografía
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- Canals Frau, Salvador. 1935. “A Araucanización da Pampa”. Em: Anales da Sociedade Científica Argentina CXX. Buenos Aires.
- Casamiquela, Rodolfo. 1969. Um Novo Panorama Etnológico do Area Pampeana e Patagónica Adjacente. Provas Etnohistóricas da Filiación Tehuelche Setentrional dos Querandíes. Museu Nacional de História Natural, Direcção de Bibliotecas, Arquivos e Museus. Santiago.
- Casanova, Holdenis. 1996. “A Aliança Hispano Pewenche e suas Repercussões no Macroespacio Fronteiriço Sur Andino (1750-1800)”. Em; Araucanía e Pampas. Um Mundo Fronteiriço em América do Sul. Edições Universidade da Fronteira, Temuco.
- Latcham, Ricardo. 1929 – 1930. Os Índios da Cordillera e a Pampa no S. XVI. Em Revista Chilena de História e Geografia LXII (66): 250 – 263; LXIII (67): 136 – 172; LXIV (68): 194 – 227; LXV (69): 225 – 263. Santiago.
- León Solís, Leonardo Temuco. 1991. Maloqueros e Conchavadores em Araucanía e as Pampas, 1700- 1800. Edições Universidade da Fronteira, Série Quinto Centenário.
- Mariño De Lobera, Pedro. 1865 [Crónica do Reyno de Chile. Colecção de Historiadores de Chile, Tomo VI. Santiago.
- Lara, Horacio. “Crónica Da Araucanía”, tomo II, Imprenta de “O Progresso”, Santiago, Chile, 1889
- Latcham, Ricardo. A organização Social e as Crenças Religiosas dos Antigos Araucanos. Publicações do Museu de Etnología e Antropologia de Chile, Santiago, 1922.
- Leon, Leonardo. “O Parlamento de Tapihue”, Nütram Nº32, Edições Rehue Ltda., Santiago, Chile, 1993
- Leon, Leonardo. “O pacto colonial hispano-araucano e o Parlamento de 1692”, Nütram Nº30, 1992/4, Santiago, Chile
- Leon, Leonardo “O pacto colonial hispano-araucano e o parlamento de 1692”, Nütram Nº30, 1992/4, Santiago, Chile.
- Mariño de Lobera, Pedro. “Crónica do reino de Chile”. Colecção de Historiadores de Chile, Santiago, Imprenta do Caminho-de-ferro, 1865.
- Molina, Raul e Correia, Martin. “O Território Pewenche do Alto Bio Bio”, Colecção A Propriedade Indígena em Chile, Conadi, Santiago, Chile, 1995.
- Parentini, Luis Carlos. “Introdução à etnohistoria mapuche”, DIBAM, Centro de Investigações Diego Barros Arana, Santiago, Chile, 1996.
- Pinto, Jorge (Editor). Do discurso Colonial ao Proindigenismo. Ensaios de História Latinoamericana, Edições Universidade da Fronteira, Temuco, 1996.
- Ramirez, Fr. Francisco Xavier, “Coronicon Sacro- Imperial de Chile”, Fontes para o estudo da colónia, transcrição de Jaime Valenzuela M., Direcção de Bibliotecas Arquivos e Museus, Centro de Investigações Diego Barros Arana, Santiago, 1994.
- Bibar, Gerónimo De (1966 [1558]): Crónica e Relação Copiosa e Verdadeira dos Reynos de Chile. Fundo Historiadores José Toribio Medina. Santiago, Chile.
- Blancpain, Jacques Perre (1985). “Os Alemães em Chile” (1816-1945). Editorial Hachette. Santiago 1985
- Borda Jean, Mario Góngora (1956): Evolução da Propriedade Rural no Vale do Puangue. Tomo I.
Enlaces externos
- Az Mapu
- Puelmapu: As comunidades recuperam espaço
- O Território e as Terras Mapuche baixo a Republica
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Comunicadores indígenas de Argentina presentan pagina Web
De norte a sur, de este a oeste comunicadores indígenas se reunirán en la ciudad autónoma de Bs. As para la firma de convenios y la presentación de una pagina Web.
Tras la inclusión de la propiedad indígena de los medios de comunicación audiovisuales comienza a desarrollarse la comunicación con identidad en los territorios. La presentación de la página podrá ser seguida a través de Internet.
Puelmapu_ Los días 10, 11 y 12 del corriente mes en la ciudad autónoma de Bs. as, el equipo de comunicación del encuentro de organizaciones de pueblos originarios junto a autoridades originarias de 23 pueblos preexistentes al estado argentino presentaran una pagina Web, firmaran convenios, abordaran el desarrollo en los territorios de la comunicación con identidad y harán importantes anuncios.
Juan Chico integrante del Pueblo Qom definió a la comunicación con identidad como “una herramienta que viene a dar visibilidad al reconocimiento constitucional de la preexistencia étnica y cultural de los Pueblos Indígenas para que transforme la relación con el Estado y sus instituciones sociales, políticas, económicas y jurídicas a fin de confrontar y transformar estas relaciones de poder que han naturalizado las asimetrías sociales, superando la actual situación de dominación, dependencia y discriminación”.
La comunicación con identidad fue incluida en la ley de servicios de comunicación audiovisual 26.522 luego de que el equipo de comunicadores conformado por 35 comunicadoras y comunicadores de las organizaciones territoriales debatieran , consensuaran y elaboraran la propuesta que luego seria incluida tras meses de incidencia publica y política para garantizar el derecho a la comunicación de los pueblos originarios.
Tras la aprobación de la ley en el senado Argentino en Octubre del 2009 los pueblos originarios lograron representación propia en la toma de decisiones en los referido a comunicación en territorios indígenas, la inclusión de una cuarta categoría de propiedad garantiza a más de 34 Pueblos Indígenas que conservan 14 idiomas ser reconocidos como sujetos de derecho público hecho sin precedentes hasta aquí en el continente.
Juan chico además agrego que la presentación de la página y los anuncios podrán ser seguidos el viernes 12 de Febrero a las 15hs por el canal por Internet que ese día se pondrá en marcha. http://www.livestream.com/pueblosoriginarios.
El comunicador del Pueblo Qom finalizo diciendo que durante los días de reunión la agenda incluye una serie de reuniones con organismos de comunicación y que tendrán como objetivo materializar la puesta en marcha de radios en el corto plazo en las regiones del NOA; NEA; Patagonia Norte y Provincia de Bs. As.
Como así también el debate sobre la participación en la sociedad de la información y el conocimiento, que constituyen uno de los principales instrumentos mediante los cuales se ejerce el derecho a la identidad y a mantener y desarrollar los propios modelos culturales, el derecho a la autoorganización y el derecho a la participación en todos los asuntos que nos afecten como pueblos preexistentes a los estados.
fonte : mapuexpress – informativo mapuche
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Carta aberta dos povos indígenas de Altamira contra a extinção da administração regional executiva da Funai em Altamira
. publicado em 10.02.2010
. . fonte : Adital
No dia 28/12/09 fomos surpreendidos pelo decreto 7.056 assinado pelo presidente Lula com o intuito de promover uma reestruturação na FUNAI, o referido decreto, entre várias outras medidas, extingue a Administração Executiva Regional de Altamira, à qual estão vinculadas 09 etnias (Arara, Xikrin do Bacajá, Kayapó Kararaô, Asurini do Xingu, Arawete, Parakanan, Xipaia, Curuaia e Juruna) de três troncos lingüísticos e com 18 aldeias 11 terra indígenas mais de 6.000.000 de hectares de terras indígenas.
Tal medida provocou o descontentamento de todos nós, indígenas aqui da região de Altamira, para resolver nossos problemas junto a FUNAI, com o decreto teremos que viajar até Santarém. Nos sentimos traídos pelo governo federal que nos estudos para a construção do AHE de Belo Monte havia prometido fortalecer a FUNAI em Altamira e agora, ao contrário, a extingue. O presidente da FUNAI nunca nos consultou se nós queríamos essa mudança para Santarém, que além de ficar muito longe de nós não tem nada a ver com nossa realidade. Ele nunca quis saber a nossa opinião e nem a dos seus próprios funcionários sobre o que nós achamos de ele acabar com nossos postos indígenas e com nossa administração. Ao extinguir nossa administração e nossos postos indígenas a administração central da FUNAI em Brasília está rifando nossas vidas para os madeireiros ilegais, grileiros de terras, garimpeiros e toda sorte de bandidos que nos cercam nessa região e que se sentem agora, sem a Administração da FUNAI aqui e sem os postos indígenas, com mais liberdade para acabar de nos matar.
Por causa dessa absurda extinção da FUNAI aqui em Altamira, que coloca nossa vida em risco, nós os Arara, os Xikrin do Bacajá, os Kayapó Kararaô, os Asurini do Xingu, os Arawete, os Parakanan, os Xipaia, os Curuaia e os Juruna saímos de nossas aldeias para a cidade e ocupamos a sede da Administração da FUNAI E SEDE DA UFPA, onde estamos desde o dia 04/02/10, porque não aceitamos em hipótese nenhuma o fim de nossa Administração Regional. Não sairemos daqui até que o governo volte atrás e revogue a extinção de nossa administração e nos garanta que continuaremos com nossa administração regional aqui em Altamira e que ela será fortalecida, sendo salvaguardada a participação indígena na gestão, para dar conta de resolver as nossas demandas atuais e as que poderão vir a surgir com a possível construção da Usina de Belo Monte em Altamira.
Se é para perdermos nossas vidas à prestação nas mãos de pescadores clandestinos, grileiros de terras, madeireiros e garimpeiros ilegais ou embaixo de milhões de metros cúbicos de água, preferimos perdê-las todas de uma vez lutando para sermos respeitados e para podermos continuar vivendo em paz em nossas terras que até hoje a FUNAI ainda não terminou de demarcar, mas que são nossas, como também é nossa essa Administração.
A falta de diálogo do presidente da FUNAI conosco e mesmo com os funcionários da FUNAI e a CNPI que ele mesmo criou-nos deixa com uma série de perguntas sem respostas: Será que o presidente da FUNAI conhece Altamira e sabe as distâncias de nossas aldeias até a cidade e da cidade de Altamira até Santarém? Se com a administração aqui perto de nós ainda temos tantos problemas como ficaremos com ela a centenas de quilômetros daqui? Será que o fim da Administração Executiva de Altamira tem alguma ligação com o ato sumário da construção de Belo Monte? Ou será que o presidente da FUNAI pensa em nos jogar nos braços da ELETRONORTE como a FUNAI já fez no passado com os Waimiri-Atroari e Parakanan de Tucuruí? Com tantas perguntas na cabeça e nenhuma resposta de Brasília ficamos pensando que para nós, índios do Brasil, a ditadura nunca acabou, os generais apenas mudaram de farda e de discurso, mas sua prática continua a mesma.
POVOS INDÍGENAS XIPAIA, CURUAIA, XIKRIN DO BACAJÁ, PARAKANÃ, ARARA, ARAWETE, ASURINI DO XINGU, JURUNA e KAYAPÓ KARARAÔ.
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EXCELENTÍSSIMO SENHOR PRESIDENTE DA REPÚBLICA, LUIS INÁCIO LULA DA SILVA.
Com cópia para:
Presidência da FUNAI;
Ministério Público Federal em Altamira;
Ministério Público Estadual;
6ª Câmara do MPF;
Órgãos de Imprensa.
O MOVIMENTO DOS POVOS INDÍGENAS DA REGIÃO DE ALTAMIRA-PA que ocupam por tempo indeterminado a sede da FUNAI em Altamira-PA, desde 04/02/10, representando o conjunto dos Povos Indígenas, através de 09 etnias locais, e mais de 4.000 indígenas, vem por meio deste, TORNAR PÚBLICO A INSATISFAÇÃO COM A APROVAÇÃO DO DECRETO Nº 7.056, de 28/12/10, E A EXTINÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO EXECUTIVA DE ALTAMIRA-PA pelos motivos que passa a expor para ao final exigir:
01. O Decreto foi publicado no DOU em 29/12/09, em pleno recesso legislativo.
02. A aprovação do Decreto não obedeceu ao comando legal estabelecido na Convenção 169 da OIT, acordo internacional ratificado pelo Brasil mediante o Decreto nº 5.051, de 19/04/2004.
03. Além de não ter havido consulta prévia aos Povos Indígenas, a Comissão Nacional de Política Indigenista – CNPI criada pelo próprio presidente da FUNAI PARA NOS REPRESENTAR foi completamente ignorada.
04. A aprovação do decreto de reestruturação da FUNAI não cumpriu o disposto da Convenção 169 da OIT, gerando assim um vício que o torna nulo. Sobre esse assunto o STF já se manifestou editando o enunciado da súmula 473, que assim dispõe: “A administração pode anular seus próprios atos quando eivados de vícios que os tornem ilegais, porque deles não origina direitos; ou revogá-los por motivos de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvado, em todos os casos, a apreciação judicial”.
05. O vício do ato administrativo que o torna ilegal foi justamente a ausência de consulta prévia e informada aos Povos Indígenas do Brasil e à CNPI.
06. O parecer 021 emitido pela própria FUNAI relativo ao componente indígena do AHE Belo Monte sugere o fortalecimento da atuação da administração local, como mitigação de impactos previstos com a implantação da hidrelétrica e não a sua extinção.
07. O mosaico étnico cultural da região de Altamira é único e a maioria dos povos indígenas da região tem no máximo 40 anos de contato.
08. A Administração Executiva de Altamira possui a experiência e a confiança de todos nós e tem nos atendido durante todos esses anos com prontidão em detrimento das longínquas administrações propostas para Marabá, Belém e Santarém que não sabem nada sobre nós e nosso modo de viver e por estarem tão longe geograficamente não poderão nos atender com a prontidão que precisamos e nem teremos acesso a eles como temos a Altamira.
09. O que está por detrás da extinção da Administração Executiva de Altamira não parece ser vontade de reestruturar a FUNAI para melhorar o atendimento a nós povos indígenas da região, mas sim a necessidade limpar o terreno para a construção do AHE BELO MONTE.
10. Transferir a Administração Executiva de Altamira para o Tapajós quando temos sérios problemas relacionados a demarcações e desintrusões de terras indígenas, quando todos ao nosso redor nos odeiam por nossa posição sempre a favor da natureza e quando será construída a maior obra do PAC em nossa região e afetará diretamente todos os povos indígenas constitui uma tentativa de genocídio para com os povos indígenas de Altamira.
Diante de toda a fundamentação fática, jurídica e de respeito a nós, EXIGIMOS:
a. A anulação do Decreto 7.056, de 28/12/2009, por descumprimento à Convenção 169 da OIT;
b. A exoneração do Presidente da FUNAI, Márcio Meira e sua equipe de direção;
c. Uma nova reestruturação baseada nas especificidades de cada região garantindo-se a participação indígena local no processo;
d. O fortalecimento da Administração Executiva Regional de Altamira com a participação de indígena de nossa região em sua administração e manutenção dos funcionários atuais e um incremento no quadro de pessoal e não sua extinção.
Diante do exposto asseveramos ainda que repudiamos a oferta de cargos na FUNAI ou em outros órgãos do governo como forma de suborno ou para prejudicar as negociações com o movimento e em hipótese alguma aceitaremos o fim da Administração Executiva de Altamira nesse momento crucial de nossa história onde nos sentimos abandonados por nosso país.
Não obstante, estamos abertos a negociar desde que observadas às considerações aqui expostas.
Altamira (PA), 05 de Fevereiro de 2010.
POVOS INDÍGENAS XIPAIA, CURUAIA, XIKRIN DO BACAJÁ, PARAKANÃ, ARARA, ARAWETE, ASURINI DO XINGU, JURUNA e KAYAPÓ KARARAÔ.
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Nativos e camponeses realizam marcha para denunciar impunidade no caso Bagua
. publicado em 10.02.10
. . fonte : Adital
Dirigentes das rondas camponesas de Piura e Cajamarca confirmaram que estão organizando, junto às comunidades nativas, uma marcha pacífica para o próximo 22 de fevereiro em rechaço à atitude do governo de não querer identificar os responsáveis diretos do massacre de Bagua, ocorrido em 5 de junho do ano passado, em que vários indígenas foram mortos ou ficaram feridos pelas forças policiais do Estado peruano.
Acrescentaram que esta manifestação, acordada na semana passada em Bagua, será em demanda ao cumprimento da plataforma expressada no grande protesto indígena de 2009, pela defesa dos recursos naturais e o direito à consulta antes de permitir que empresas transnacionais entrem em seus territórios para extrair minerais e petróleo com o aval do Estado.
Sixto Alverca, presidente da Frente de Defesa do Meio Ambiente de Carmen da Fronteira e integrante dos grupos dessa localidade localizada na serra piurana, apontou que a manifestação do próximo dia 22 será contundente. Acrescentou que marcará o ponto de partida de uma agenda de trabalho comum entre nativos e camponeses. “Tanto na selva como nos Andes o governo tem deixado que empresas transnacionais entrem sem consultar, somos povos inconsultados e juntos devemos reclamar, mas, ademais, esta situação de abuso está permitindo abrir um diálogo entre nativos e campesinos para apresentar propostas em defesa da vida e de respeito a nosso direito à consulta prévia”, disse.
Agregou em diálogo a este jornal: “O atropelo é similar na selva, onde o governo utilizou a Polícia para reprimir uma demanda justa contra decretos legislativos que permitem a entrada de empresas petroleiras. Aqui na serra piurana torturam os campesinos e faz poucos dias que policiais mataram dois rondeiros indefesos e deixaram três feridos pelo único feito de se oporem ao projeto mineiro Río Blanco, que contamina nossas terras e a água. Devemos estar unidos,andinos e amazônicos, estamos no mesmo processo de luta”.
Por sua vez, Angelo Cruz, da comunidade de Cajas-Canchaque, disse que as rondas campesinas marcharão pelas principais ruas e se concentrarão ante os governos das capitais de províncias para manifestar seu rechaço ao relatório governamental sobre o “baguazo”.
A notícia é de Prensa Digital www.conacami.org
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Os Guarani num ano decisivo
Adital : Egon Dionísio Heck *
02.02.10 – BRASIL
“A doença dos Guarani é uma só – recuperar nosso território, nossa terra, através de nossa cultura, nossa organização, nossa reza” (Cacique Rosalino, 1-02-10)
Sentado em frente ao barraco, Rosalino vai contando pausadamente como tem participado do processo de preparação do encontro que estará acontecendo a partir de hoje na aldeia de Anhetete, no sudoeste do Paraná. Está prevista a chegada de 800 Guarani dos quatro países – Paraguai, Brasil, Argentina e Bolívia. Ele conta como foram construindo a proposta de uma Aty Guasu Ñande Reko Resakã Yvy Rupa; ou seja, um encontro pilares: a terra e o modo de viver dos Guarani nestes territórios, sua cultura e religião.
Já no início da noite, quando as estrelas começaram a passear no firmamento, um grupo de Yvy Katu iniciou mais uma noite de ritual, Jeroky. Animados pelo espírito dos antepassados e dos deuses protetores e na esperança depositada em mais um encontro importante para os Povos Guarani da America do Sul.
Um pouco da historia e objetivos
O Encontro foi originalmente pensado pelo Ministério da Cultura e Comissão especial de Direitos Humanos, para comemorar os 60 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos e para propiciar à população do Mato Grosso do Sul uma visão mais real sobre a situação em que vivem e principalmente a fora e importância que tem sua cultura no momento atual.. Isso tendo em vista principalmente a grave situação pela qual o esse povo está estava passando a partir do inicio de 2005 com a morte de mais de 40 criancças, de desnutrição. Além disso, seria uma oportunidade para os Povos Guarani aprofundarem entre si as razões de tão grave situação e juntos traçassem as estratégias necessárias para enfrentá-los. O Encontro seria realizado em Dourados de 10 a 13 de dezembro e no encerramento teria um grande show artístico com artistas de renome nacional e internacional. Lamentavelmente a postura do agronegócio e do governo do Estado inviabilizaram a realização do evento conforme previsto
Anhetete, nas margens do rio Paraná.
Portanto o Encontro estava no marco da celebração dos 60 anos dos Direitos Humanos, e a negação aos direitos básicos dos Kaiowá Guarani à vida e às suas terras. A mudança forçosa de lugar alterou também parte de seus objetivos, com relação à conscientização da sociedade regional com relação à força, cultura e vida desses povos. Permaneceu, porém, o aspecto de articulação dos Povos Guarani, num contexto de encontros continentais e outras iniciativas de união das lutas desses povos por seus direitos.
Dentre os eixos temáticos definidos pela coordenação Guarani do encontro, em janeiro, serão a partir da compreensão da Convenção 169 da OIT e da Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas. Destacam-se os seguintes temas: “Reconhecimento e devolução dos territórios ancestrais do povo Guarani na América do Sul; Abertura da Fronteira dos países do Mercosul para os povos Guarani; Discussão de Políticas Públicas (educação, saúde, cultura, meio ambiente, economia…) dos Países do Mercosul para o Povo Guarani…”
Dentre as idéias a discutir, destacadas pela coordenação estão: “O Povo Guarani é um só; fortalecimento do povo Guarani através da unificação; recuperação das terras para o povo Guarani é imprescindível para que a sua cultura seja exercida plenamente. O encontro é uma oportunidade única para se iniciar um processo de reconhecimento da cultura Guarani no âmbito do Mercosul Cultural e Social.” (doc. De preparação do Encontro)
O projeto inicial (Ava Marandu) destacava a questão dos direitos humanos e a força e beleza da cultura e valores Guarani. Com isso se propunha a ser um momento forte de conscientização da população sul matogrossense sobre a importância e contribuições do povo Guarani para um projeto plural e igualitário para esse estado e para o Brasil. Também se colocava como objetivo o fortalecimento da identidade étnica Kaiowá Guarani.
Já o encontro que hoje inicia no tekoha Anhetete restringe mais seus objetivos para a articulação e fortalecimento do povo Guarani e sua presença organizada no espaço do Mercosul. Para isso se prevê a elaboração e entrega de documentos aos ministros da Cultura do Brasil e Paraguai, que confirmaram suas presenças no dia 5, e os representantes dos outros países.
A suprema injustiça
Enquanto isso os Kaiowá Guarani no Mato Grosso do Sul continuam sendo vítima do que consideram a suprema injustiça, que é lhes negar o direito às terras tradicionais para poderem viver em paz e com dignidade. Além da liminar assinada pelo presidente do Supremo Tribunal de Justiça, ministro Gilmar Mendes, na véspera do Natal, ele continuou assinando as liminares impetradas por fazendeiros, atingindo praticamente todo o território da comunidade de Arroio Korá, homologado pelo presidente Lula em dezembro do ano passado. E essa tendência de atender a todas as ações do agronegócio e políticos do Mato Grosso do Sul, se configura efetivamente como tendência a ser seguida pelo presidente da Corte suprema do país. E o que é pior, já se fala na suspensão total das identificações em curso, através dos 6 Grupos de Trabalho, por determinação do presidente do STJ.
É neste contexto que o encontro de Anhetete vai ter uma importância muito grande, pois trará ao mundo essa lamentável situação e exigirá providencia.
O cacique Rosalino com seu grupo já está na beira da estrada para embarcar. Na bagagem as tradicionais armas: mbaraká, takuara, para fazer muitas celebrações e rituais, para trazer mais força e esperança para seu povo na luta pela terra, vida e futuro.
Yvy Katu, 2 de fevereiro de 2010
Campanha Povo Guarani Grande Povo
* Assessor do Conselho Indigenista Missionário (CIMI) Mato Grosso do Sul
fonte :
Povos do Xingu pedem ajuda para resistir aos mais fortes ataques do capital
do Adital : Andes-SN *
27.01.10 : BRASIL
Os povos do Xingu, que resistem à construção da Hidrelétrica de Belo Monte há mais de 20 anos, sofrem neste momento seu mais pesado ataque e precisam do auxílio de todos aqueles que compreendem o quanto é importante discutir melhor o impacto da construção de hidrelétricas na Amazônia.
Este foi o apelo do representante do Movimento Xingu vivo, Dion Monteiro, durante a abertura do 29º congresso do ANDES-SN. “Os povos do Xingu resistiram ao governo militar de Figueiredo, ao governo Sarney, Collor, Itamar, FHC (duas vezes), e agora, no governo Lula, sofrem o seu mais pesado ataque”, denunciou.
De acordo com ele, em uma audiência realizada no dia 22/7/2009, o presidente da República prometeu que Belo Monte não seria “enfiada goela abaixo dos povos do Xingu”. “Infelizmente, é exatamente isso que tem ocorrido. O governo Lula, hoje, tem tentado implementar esta obra a qualquer custo, sem debater com a sociedade, e muito menos com as populações atingidas”.
Dion Monteiro alega que o motivo é claro: o governo não quer que as pessoas saibam que a energia gerada irá atender apenas as grandes empresas do eixo centro-sul do Brasil, e a parte que ficará no Pará só irá beneficiar a Vale do rio Doce e a ALCOA, não sendo previsto nada para atender as comunidades locais que não possuem energia elétrica.
O ativista ressalta ainda que o processo de viabilização da hidrelétrica demonstra o autoritarismo com que os governos e seus representantes têm tratado a floresta e as populações amazônicas historicamente. “No Governo do Pará, governado pelo PT, a coisa é ainda mais grave, pois os mais influentes secretários de governo são todos professores e professoras da UFPA, conhecedores das históricas e trágicas consequências que os projetos capitalistas de desenvolvimento trouxeram para a região, mas, mesmo assim, movidos por interesses econômicos e eleitorais, defendem com todas as suas forças a hidrelétrica de Belo Monte”.
Saiba porque a Hidrelétrica de Belo Monte interessa ao capital:
– Os 11 mil MW de energia prometidos somente serão alcançados em 4 meses do ano;
– Aproximadamente 20 mil pessoas serão remanejadas compulsoriamente, já que a área do reservatório atingirá diretamente três municípios (Altamira, Vitória do Xingu e Brasil Novo) e, indiretamente, quase uma dezena de municípios.
– As empresas estimam ganhar no mínimo 30 bilhões de reais, dinheiro proveniente dos impostos pagos por brasileiros e brasileiras;
– O EIA elaborado pelas empresas contratadas pelo próprio governo, estima que aproximadamente 100 mil pessoas migrarão para a região, mas que, no pico da obra, somente serão gerados 40 mil empregos;
– Que as hidrelétricas emitem gás metano, que é um gás de efeito estufa que causa um impacto no aquecimento global 25 vezes maior, por tonelada, que o gás carbônico;
* Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior
fonte :
Expedição confirma presença de índios isolados perto de hidrelétrica em RO
de Blog da Amazônia : Altino Machado
dezembro 23, 2009
Uma expedição que percorreu a Estação Ecológica Mujica Nava, em Porto Velho (RO), constatou vestígios da presença de índios isolados numa faixa entre 10 e 30 quilômetros do canteiro de obras da usina hidrelétrica de Jirau.
Realizada entre os dias 26 de novembro e 10 de dezembro, a expedição também encontrou dois garimpeiros que avistaram oito indígenas na margem da estrada de um garimpo. Os depoimentos deles foram gravados em áudio e vídeo.
Os garimpeiros transitavam de moto quando avistaram os índios na margem da mata. Os índios estavam a uma distância de aproximadamente 80 metros. Assustados, os garimperiso aceleraram a moto. Os indígenas, também assustados, entraram na mata.
Os garimpeiros estacionaram a moto mais à frente do local onde os índios entraram na floresta. Quando olharam para trás viram que os índios haviam retornado à beira da estrada e os observavam.
Alguns índios estavam nus e outros usavam roupas velhas e rasgadas. Outros integrantes do grupo estavam calçados com chinelos coloridos de pares diferentes. Alguns deles usavam chapéus de palha tradicionais. Um homem portava uma espécie de borduna e outro um arco e flechas.
– Os garimpeiros e os índios estavam assustados com esse encontro, tendo os indígenas fugido às pressas para a floresta – assinala o relatório, que contou com a participação de equipes da Fundação Nacional do Índio (Funai), Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam), Centro de Trabalho Indigenista (CTI), Monte Sinai e Associação de Defesa Etno-Ambiental Kanindé.
Nas cabeceiras do igarapé Queixada, foram encontrados arbustos e folhas de babaçu quebrados manualmente, além de duas retiradas de mel nas árvores, com o formato tradicional feito por indígenas.
Também foi encontrada uma área pequena, de aproximadamente um hectare, que parecia ser um desmatamento recente, podendo ser uma roça de índios, na divisa dos estados de Rondônia e Amazonas.
Num tabocal na nascente do igarapé Tuchaua foram localizados mais arbustos quebrados e torcidos por indígenas. Numa fazenda localizada no interior do Parque Nacional Mapinguari também foram encontrados vestígios da ocupação indígena.
De acordo com o relatório, é provável que o local tradicional de ocupação desses indígenas seja a região que envolve a Estação Ecológica Serra dos Três Irmãos/Mujica Nava, Parque Nacional do Mapinguari, numa faixa que varia de 10 a 30 km da hidrelétrica de Jirau.
O relatório observa que as explosões efetuadas na construção da hidrelétrica está afugentando os índios daquela região para o garimpo da Macisa, onde foram avistados, com circulação freqüente de malária e hepatites.
O relatório recomenda que o grupo indígena seja monitorado para evitar que seja atingido por doenças ou dizimado em confrontos com brancos. Também recomenda a realização de expedições periódicas para localizar a área de ocupação e propor interdição do território indígena.
– Estamos comemorando a existência desses indícios. A gente já consegue saber oficialmente que existem pelo menos oito pessoas e podemos localizar geograficamente onde elas estão. Percebe-se que estão assustados com as explosões, que afugentam a caça. É uma realidade grave – afirma Telma Monteiro, da Associação de Defesa Etno-Ambiental Kanindé.
Isolados no Maranhão
A Funai confirmou nesta semana a existência de indígenas isolados na Terra Indígena Araribóia, no Maranhão. Uma expedição encontrou vestígios recentes próximos a lagoa Samaúma.
Desde a década de 1980 a Funai tem conhecimento do grupo, mas há algum tempo não encontrava provas tão concretas da permanência dos indígenas na região. O grupo isolado é, provavelmente, pertencente ao povo Awa Guajá e pode chegar ao total de 60 pessoas.
Nas trilhas abertas pelos isolados, além dos rastros de pegadas, a equipe da Funai constatou o intenso processo de devastação da mata. A exploração de madeira no interior da Terra Indígena é um problema histórico. Há mais de 20 anos os madeireiros retiram, principalmente, cedro, sapucaia, copaíba e cerejeira.
fonte :
Katukinas ou Catuquinas
da Wikipedia
Os Catuquinas são um grupo indígena que habita o Sudoeste do estado brasileiro do Amazonas (nas Áreas Indígenas Paumari do Cuniuá, Paumari do Lago Paricá, Rio Biá e Terra Indígena Tapauá), e no limite do Amazonas com o Acre (na Área Indígena Katukina/Kaxinawá).
fonte :
Katukinas relatam presença de isolados no rio Biá
do jornal Estado de São Paulo
segunda-feira, 18 de janeiro de 2010
Katukinas relatam presença de isolados no rio Biá
De acordo com relatos, o contato visual e verbal foi feito a sudeste dos limites da Terra Indígena
CARAUARI (AM) – Após colher relatos consistentes de índios katukinas da Terra Indígena Rio Biá, no sudoeste do Amazonas, a expedição da Frente Etnoambiental Vale do Javari, realizada pela Funai em parceria com o Centro de Trabalho Indigenista, decidiu realizar uma nova entrada na selva a partir desta terça-feira (19). Os katukinas afirmam que tiveram contato com um grupo isolado desconhecido, descreveram sua fisionomia e o local onde caçam.
O objetivo da expedição, comandada pelo indigenista Rieli Franciscato, é catalogar os vestígios deixados na mata pelo suposto grupo isolado para embasar uma possível demarcação de terras. De acordo com os relatos dos katukinas, o contato visual e verbal com os isolados foi feito a sudeste dos limites da Terra Indígena Rio Biá.
A área do contato, entre os rios Jutaí e Juruá, é transitada por não-índios. Está localizada a 150 quilômetros da cidade de Carauari e próxima a pelo menos uma pista de pouso clandestina, possivelmente utilizada por traficantes de drogas.
Para delimitar o percurso que será expedicionado, a Frente Etnoambiental percorreu três aldeias katukinas – Boca do Biá, Janela e Bacuri – em um período de três dias para colher depoimentos. A informação inicial, um boato que percorria comunidades ribeirinhas, era de que um isolado teria raptado uma mulher da aldeia Janela, chamada Luana.
A história tinha contornos fantasiosos, já que katukinas afirmavam que o suposto rapto teria durado apenas um dia. O marido, cujo nome seria Mariano, teria ido buscar a mulher sozinho e desarmado, o que parecia inverossímil.
No entanto, o rapto foi confirmado por todos os índios com quem a equipe da Frente Etnoambiental conversou. A mulher raptada e o marido não foram localizados, mas novas histórias sobre os isolados começaram a surgir, bem delineadas e detalhadas.
Segundo o katukina Carnaval, que mora na aldeia Bacuri, a cerca de 40 quilômetros da cidade de Carauari, os isolados caçam em um igarapé próximo. Carnaval afirmou ter encontrado quebradas e varadouros, vestígios mais comuns de presença indígena, até fazer contato direto com o grupo desconhecido.
Nus, de baixa estatura, com cabelos longos e pintados com urucum, os isolados não teriam sido agressivos e tentaram fazer contato verbal. Eles possivelmente falam katukina. “Deu para entender tudinho”, afirmou Carnaval.
INCURSÃO
A incursão da Frente Etnoambiental será feita por voadeiras e deve ter duração de pelo menos 10 dias. O katukina Carnaval irá acompanhar todo o percurso para auxiliar na localização dos vestígios.
A expedição subirá um igarapé afluente do rio Biá até onde for possível para então montar o acampamento base e entrar na mata. O trajeto tem cerca de 50 quilômetros.
Os vestígios, segundo o índio, estão próximos da aldeia Bacuri. No entanto, as malocas e tapiris, ou acampamentos rudimentares dos isolados, estão igarapé acima.
Se houver mesmo a presença de isolados, a expedição pretende conhecer sua área de perambulação e catalogar vestígios para, em seguida, estudar a melhor maneira de protegê-los da ação do não-índio e até mesmo do contato com outros índios.
A maior preocupação é com a disseminação de doenças. Uma simples gripe poderia dizimá-los.
NÚMEROS
O trajeto em voadeiras terá 5 quilômetros
A caminhada prevista é de 50 quilômetros
fonte :
imagens da expedição neste link abaixo :
http://blogs.estadao.com.br/olhar-sobre-o-mundo/na-trilha-dos-isolados-parte-i/